Importância do Paraquate na Agricultura Brasileira
Contexto geral
- O Paraquate é um herbicida não seletivo, de amplo espectro, utilizado de forma segura em mais de 80 países.
- Herbicidas classificados como não seletivos são herbicidas que não podem ser aplicados sobre as culturas por não serem seletivos às plantas cultivadas e controlam um grande número de espécies de plantas daninhas de grupos diferentes, como as chamadas plantas daninhas de folhas estreitas (gramínea e ciperáceas) e folhas largas (dicotiledôneas).
- Os poucos herbicidas não seletivos existentes são utilizados nas culturas em aplicações dirigidas, sem atingir as partes aéreas da plantas e, principalmente, antes do plantio ou emergência das culturas, nos sistemas conservacionistas chamados Plantio Direto ou Cultivo Mínimo. A comunidade científica reconhece que os benefícios do Plantio Direto são maiores nas regiões tropicais e sub-tropicais, como no Brasil, do que nas regiões mais frias.
- Tais produtos foram e tem sido determinantes na viabilização dos sistema de Plantio Direto, pois um dos principais desafios, se não o maior, de tal sistema é o manejo das diversas plantas daninhas que se estabelecem nas áreas antes do plantio das culturas e, caso não devidamente controladas, simplesmente inviabilizam o sistema e obrigam os agricultores a revolver o solo, expondo-o à intempéries climáticas, como chuvas e vendavais.
- No Brasil, o Paraquate está registrado desde a década 60 e é usado em culturas importantes para a agricultura nacional, tais como: soja, milho, algodão e cana-de-açúcar.
- Por ser o Paraquate normalmente utilizado em sistemas de manejo de plantas daninhas que incluem outros herbicidas e métodos de controle, mesmo com o uso a tantos anos não há ocorrência de plantas daninhas resistentes ao Paraquate no Brasil. Poucos casos de resistência são relatados em outros países e a prevenção de resistência exige a rotação de herbicidas, sendo o Paraquate um produto fundamental para a preservação dos demais herbicidas utilizados na agricultura brasileira e mundial.
- Um outro aspecto a ser considerado nas decisões de limitar as opções de tecnologias disponíveis aos agricultores brasileiros são as características quase únicas do nosso modelo agrícola. O Brasil é, inquestionavelmente, a primeira grande potência agrícola em região tropical e sub-tropical no mundo, e pelas características únicas de clima e de diversidade de pragas, doenças e plantas daninhas, requer modelos tecnológicos mais intensos e maior diversidade de soluções para proteger as culturas. A intensidade da nossa agricultura, com múltiplos cultivos anuais, nos impõem ainda desafios adicionais na proteção das lavouras.
Dano potencial das principais pragas (% redução de produtividade)
- A utilização de paraquate, quando realizada de acordo com as instruções e precauções estabelecidas na regulamentação e descritas na bula do produto, é segura e não traz riscos de intoxicação ao trabalhador, ao meio ambiente ou aos consumidores finais de produtos agrícolas.
Prejuízos imediatos de eventual banimento do Paraquate
Agronômicos:
- Limitação à utilização de transgênicos tolerantes ao glifosato, como no algodão, no milho e na soja. O banimento da Paraquate levará à intensificação do uso de Glifosate, acelerando o surgimento de mais e mais plantas daninhas resistentes além das oito espécies já resistentes no Brasil.
- Prejuízos à intensidade da nossa agricultura e na produtividade, acarretando atrasos na velocidade de plantio das culturas anuais (soja, algodão, milho), com impacto negativo à produtividade e aumento dos riscos climáticos de culturas como o milho safrinha, por exemplo. Isto decorre do fato do Paraquete ser um herbicida de ação muito rápida, incomparável, matando as plantas daninhas em poucos dias (2-5 dias) e assim viabilizando plantios mais rápidos dentro das épocas recomendadas.
- Aumento do uso e maior exposição de outros herbicidas ao surgimento de biótipos resistentes. O banimento de paraquate levará ao aumento de uso de herbicidas específicos, muitas vezes de dois ou três princípios ativos combinados para compensar o fato controlarem um número muito menor de espécies de plantas daninhas, sendo que tais herbicidas específicos são mais predispostos ao surgimento de plantas daninhas resistentes, como ilustrado na tabela a seguir:
Impactos Ambientais:
- Limitações à adoção do plantio direto ou abandono do plantio direto, em decorrência da dificuldade de controlar plantas daninhas.
- O Paraquate, com sua ação rápida, foi pioneiro na viabilização do Plantio Direto e seu uso é intenso até os dias atuais, pois possibilita rápido controle das plantas daninhas (em 2-5 dias) e a formação de uma camada de palha, proveniente da dessecação de plantas daninhas ou mesmo de culturas de inverno.
- O Plantio Direto é dependente da formação de palhada porque ela protege fisicamente o solo contra chuvas, aumenta do teor de matérias orgânica do solo e o enriquecimento da microfauna e flora, aumentando assim a eficiência de uso de fertilizantes e favorecendo o crescimento das raízes. A palhada reduz também a incidência de plantas daninhas e conserva a umidade do solo, minimizando o impacto de chuvas reduzidas e reduzindo os custos de produção.
- A incorporação de matéria ao solo tem um grande impacto na mobilização ou sequestro de CO2 da atmosfera, fato de relevante impacto ambiental (aquecimento).
- Aumento no impacto ambiental da cultura da soja pela menor área de plantio direto e pelo aumento na utilização de herbicidas e e operações de maquinários.
- Menor proteção do solo (erosão) e aumento na emissão de carbono devido a redução da área de plantio direto e menor sequestro de CO2.
Econômicos:
- Aumento no uso de herbicidas e no custo operacional de sua aplicação, pois os herbicidas específicos são geralmente mais caros e mais de um princípio ativo serão necessário para substituir o Paraquate.
- Aumento dos custos de produção e perda da rentabilidade do produtor.
- Os impactos na produção de soja, milho e feijão têm efeitos negativos sobre as condições sócio econômicas da população rural.
- Redução nas exportações e menor incremento da balança comercial do país.
- Redução da competitividade do sojicultor brasileiro em relação aos produtores de outros países pelos aumentos de custos e redução de produtividade, com possibilidade de redução da participação do Brasil na produção mundial.
Ranking das maiores agriculturas mundiais
- O Paraquate é registrado e comercializado em 85 países desenvolvidos e em desenvolvimento ao redor do mundo, inclusive nos maiores mercados agrícolas sob os sistemas regulatórios mais exigentes como o dos EUA, Canada, Austrália, Japão e Nova Zelândia.
- O Paraquate é utilizado nos Estados Unidos da América e a Argentina, dois gigantes da agricultura mundial, e grandes concorrentes do Brasil.
Impacto em plantio direto
- O plantio direto é um sistema diferenciado de manejo do solos agrícolas visando diminuir o impacto da agricultura e das máquinas agrícolas (tratores e implementos agrícolas) sobre o mesmo.
- São inúmeras as publicações com informação sobre os benefícios do Plantio Direto. O quadro a seguir evidencia alguns desses diversos benefícios, desde a redução de mão de obra (31%) e da perda de solo (93%) e de nutrientes (75% de Fósforo e de Potássio), assim como a redução de demanda de óleo diesel em 44% e do uso de máquinas em 41%.
- No Sistema de Plantio Direto o solo não é movimentado quando as culturas são estabelecidas, eliminando a aração e gradagem, realizando-se a semeadura diretamente sobre os restos culturais existentes na superfície do solo, conhecido como palhada. O Brasil possui uma das maiores áreas de plantio direto do planeta, cerca de 30 milhões de hectares, ficando abaixo apenas dos EUA. Esta moderna forma de fazer agricultura resulta em diversos benefícios, como:
- Aumento da matéria orgânica do solo. O uso do Plantio direto aumenta entre 50 e 85% o teor de matéria orgânica do solo (Bayer, et al., 2000). Como o sequestro de carbono na agricultura depende da matéria orgânica do solo, o uso do Plantio Direto significa mais carbono no solo e menos carbono na atmosfera, que é exatamente o que se procura para a diminuição dos gases de efeito estufa, como o CO2. Para as condições tropicais e subtropicais do Brasil, estudos mostram que o Plantio Direto pode sequestrar de 0,15 a 1,7 toneladas de carbono por hectare por ano, que representa ganhos ambientais extraordinários; Em relação a eficiência agrícola e ambiental do sistema, resultados de pesquisa demonstram que ao longo do tempo, as produtividades alcançadas no Plantio Direto superam as do Plantio Convencional, e isto ocorre com enormes ganhos ambientais, como a redução da emissão de carbono para a atmosfera, redução esta que pode chegar próxima dos 80 kg de carbono/hectare/ano, que atende a sugestão feita pelo prêmio nobel Al Gore, em sua recente visita ao Brasil, onde afirmou a urgência do mundo em “recarbonizar” o solo, “descarbonizando a atmosfera. É exatamente o que o plantio Direto faz. Além disto, no Plantio Direto ocorre uma diminuição do uso de combustível, contribuindo ainda mais para a redução da emissão de gases de efeito estufa para o ambiente.
- Diminuição do uso de óleo diesel ou outros combustíveis fósseis. Este é outro aspecto importante para a redução dos gases de efeito estufa. A redução do uso de combustível ocorre no Plantio Direto porque se suprime as operações de preparo do solo, que podem representar até 14% do gasto de combustível nas lavouras, isto torna o Plantio Direto um sistema energético mais eficiente, onde com litro de diesel gera a produção de aproximadamente 104 kg de grãos, comparados a apenas 48kg no Plantio Convencional.
- Diminuição da erosão: A manutenção da palha na superfície do solo, preceito básico do Plantio Direto, diminui em até 99% o carregamento de solo pela chuva, reduzindo drasticamente a erosão das áreas, que além de prejudicar a produção agrícola, traz a contaminação e assoreamento dos nossos rios, lagos e represas;
- Melhor aproveitamento da água. Os solos sob Plantio Direto possuem melhor estruturação física, que aliado a matéria orgânica e a palha presente na superfície, resultam em melhor infiltração de água, normalmente até 3 vezes maior que o Plantio Convencional, por isso o Plantio Direto pode reduzir em até 96% as perdas de água na agricultura, bem precioso não só para a produção de alimentos mas para toda a humanidade;
- Maior aproveitamento dos nutrientes. Com menor erosão, maior matéria orgânica e melhor aproveitamento da água, o Plantio Direto proporciona melhor aproveitamento dos nutrientes pelas plantas cultivadas (em até 72%), significando em maior eficiência no uso dos adubos. Isto é importante no aspecto financeiro, mas também no aspecto ambiental, pois para a fabricação de alguns destes compostos exige-se grande gasto de energia e também ocorre a liberação de gases de efeito estufa;
- Ganhos ambientais diversos. A adoção do Plantio Direto pode reduzir em 25% a temperatura na superfície do solo, que aliado as melhorias físicas e químicas destas áreas, resulta em maior atividade microbiana, com aumento de até 4 vezes o número de insetos benéficos e em 10 vezes a população de minhocas no solo.
- Hoje o Plantio Direto brasileiro é modelo para o restante do mundo, com abrangência estimada em mais do que 32 milhões de hectares, chegando a aproximadamente 70% das nossas lavouras de grãos.
- Na 15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-15) o governo brasileiro divulgou o seu compromisso voluntário de redução de 36,1% a 38,9% das emissões de gases de efeito estufa projetadas para 2020, estimando o volume de redução em torno de um bilhão de toneladas de CO2 equivalente (t CO2 eq). Para tanto, foram propostas diferentes ações, entre elas a ampliação do uso do Sistema Plantio Direto (SPD). Este compromisso foi ratificado no Artigo nº 12 da Lei nº 12.187, de 29 de Dezembro de 2009, que institui a Política Nacional sobre Mudanças do Clima (PNMC). Para o setor da agricultura ficou estabelecida a constituição do Plano para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura, que criou um Grupo de Trabalho com o objetivo de elaborar o Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC).
- Durante a elaboração do Plano ABC, houve o detalhamento dos compromissos originais da agricultura, firmados na COP-15, que passaram a ser compostos por meio da adoção de diversas ações, dentre elas a ampliação da utilização do Sistema Plantio Direto em 8 milhões de hectares.
- O modo de ação do Paraquate (Inibidor do Fotossistema I) é único e o coloca como peça fundamental em regiões onde ocorre o plantio direto, que é um sistema essencial da agricultura conservacionista brasileira. Nos últimos 10 anos a EMBRAPA e entidades como a Sociedade Brasileira de Ciência das Plantas Daninhas (SBCPD), Associação Brasileira de Ação a Resistência de Plantas Daninhas aos Herbicidas (HRAC-BR) e pesquisadores especializados no tópico de diversas universidades brasileiras e do exterior, alertam para o fato de que a resistência a plantas no Brasil tem aumentado em proporções dramáticas e principalmente em relação ao Glifosato (Silva, et al., 2009).
- O site mantido pela WSSA (Weed Science Society of America, http://weedscience.org/summary/moa.aspx) indica que não existe nenhuma espécie da planta daninha resistente ao Paraquate no Brasil, mas que o número de casos de plantas daninhas resistentes a herbicidas no Brasil cresceu de 3 para 43 entre os anos de 1996 e 2016, um aumento dramático e muito preocupante.
Exemplo de impacto na cultura da soja
- As estimativas dos efeitos das plantas daninhas resistentes ao glifosato sobre a cadeia da soja estão explicitadas na tabela a seguir:
- Nota-se que os impactos potenciais sobre a economia são significativos, podendo chegar a uma redução de cerca de R$ 27 bilhões no VBP, com perda de 2,0 milhões de empregos e reduções de R$ 25 bilhões na renda do trabalho e de R$ 4,7 bilhões na arrecadação de impostos.
- Se considerarmos que existem ainda outros cultivos relevantes nos modelos agrícolas brasileiros como: feijão, milho, algodão, para os quais o Paraquate também é uma ferramenta importante e essencial, o impacto econômico é muito maior.
- Esse impacto para ser exemplificado pelo “Projeto Centro Sul de Feijão e Milho”, liderado pela Emater-PR, e que atende 3.200 pequenos produtores de feijão e milho de 41 municípios do Paraná. O projeto objetiva promover o uso correto e seguro de tecnologias e práticas agrícolas, sendo que o Paraquate desempenha um papel fundamental no sistema de técnicas proposto pelo projeto, o qual gera um aumento sustentável de produtividade. Entre os resultados obtidos pelo projeto se destaca a alta produtividade média
- Feijão: 2.240 ton/ha -> 40% a mais do que a média do estado do Paraná, que é 1.569 ton/ha. A maior produtividade permite o incremento médio de R$ 13.410,00 na margem bruta de renda por propriedade.
- Milho: 8.177 ton/ha -> 34% a mais do que a média do estado do Paraná, que é 6.107 ton/ha. A maior produtividade permite o incremento médio de R$ 6.997,00 na margem bruta de renda por propriedade.
Conclusões gerais
- Uma eventual retirada do mercado do Paraquate da agricultura brasileira trará severos malefícios agronômicos, econômicos e ambientais, a saber:
- Maior o volume de uso de alguns herbicidas e aumento do número de herbicidas utilizados, assim como aumento do número de operações de aplicação de herbicidas.
- Aumento da exposição do agricultor a agrotóxicos decorrente do maior número de herbicidas sendo manipulados.
- Comprometimento do Sistema de Plantio Direto, resultando em inúmeros prejuízos ambientais (menor sequestro de CO2, aumento da erosão e das perdas de solo, poluição e assoreamento de cursos de água e represas, menor retenção de água no solo com prejuízos de produtividade, redução da eficiência de uso de fertilizantes).
- Redução de produtividade decorrente da aceleração do número de espécies de plantas daninhas resistentes a herbicidas e menor número de opções de compostos para o manejo das mesmas.
- Perda da eficiência nas operações de plantio nos sistemas de alta intensidade (múltiplas culturas) da agricultura brasileira.
- A redução da produtividade trará problemas econômicos que somados ao aumento de custo, gerados pelo aumento no uso de herbicidas e no custo operacional de sua aplicação, pois os herbicidas específicos são geralmente mais caros e mais de um princípio ativo serão necessários para substituir o Paraquate. O aumento do custo da produção acarretará perda de renda para o produtor rural, ocasionado o aumento de custos, iniciado na base da produção, aumento de preços finais e perda de competitividade externa.
- Diante de uma análise de impacto, é mais viável manter o Paraquate adotando-se medidas de proteção, seguindo decisões de países desenvolvidos e de sistema regulatório rígido como Estados Unidos e Austrália, a bani-lo, trazendo consequências danosas ao dia a dia do produtor brasileiro.
Fontes:
HRAC, coordenadores Christoffoleti, P., Nicolai, M. Aspectos de Resistência de Plantas Daninhas a Herbicidas, 4ª. Ed., Piracicaba, ESALQ, 2016.
Global Herbicide Resistance Challenge. Palestras…, Denver, CO, USA. 2017
Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP).
Silva, AA da, et al. Sistema de plantio direto na palhada e seu impacto na agricultura brasileira. Revista Ceres, Jul-Ago, 56.4 (2009): 496-506.
Weed Science Society of America (WSSA)
Bayer, C., J. Mielniczuk, and L. Martin-Neto. “Efeito de sistemas de preparo e de cultura na dinâmica da matéria orgânica e na mitigação das emissões de CO2.” Bras. Ci. Solo 24 (2000): 599-607.
Brazil Low Carbon Country Case Study (worldbank.org)
Correa, Poliana. 2014. BRASIL POSSUI A SEGUNDA MAIOR ÁREA COM PLANTIO DIRETO DO MUNDO.
MAPA. Projeto Rural Sustentável ajudará Brasil a cumprir objetivos da COP 21.