Pecuária, o Calcanhar de Aquiles da boa imagem ambiental do agronegócio brasileiro
Contextualização
- Em 1975, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rebanho bovino brasileiro tinha 102,5 milhões animais. Em 2011, esse número já tinha dobrado para 204 milhões de cabeças, com relevância na economia brasileira, apesar das áreas de pastagens brasileiras terem diminuído 8% em 36 anos.
- Em 2019, o Brasil exportou 1,84 milhão de toneladas de carne bovina, obteve receita de US$ 7,59 bilhões e se consolidou como o maior exportador mundial do produto, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
- A carne brasileira é produzida majoritariamente em sistemas a pasto. Essa característica faz a pecuária nacional mais sustentável. A produção a pasto traz bem-estar animal e fixação de carbono no solo.
- No Brasil, além de uma carne de baixo carbono, em função desse sistema produtivo a pasto, temos toda a questão ambiental. O Código Florestal obriga o produtor rural a destinar de 20 a 80% da área de sua fazenda à conservação da vegetação nativa. Temos esses dois componentes que nossos concorrentes internacionais não têm.
Dados do Setor
- Com um rebanho de 213,68 milhões de cabeças, a pecuária brasileira registrou em 2019 um abate de 43,3 milhões de cabeças, queda de 2,1% ante as 44,23 milhões de cabeças abatidas em 2018.
- Nesse mesmo período o Brasil registrou um aumento de 12,2% nas exportações de carne bovina, que passaram de 2,21 milhões TEC em 2018 para 2,49 milhões TEC. Do total de carne produzida, 76,3% ou 8,01 milhões TEC tiveram como destino o mercado interno, enquanto 23,6 % foram destinadas às exportações, o equivalente a 2,49 milhões TEC. Do total exportado, houve um aumento de 15,9% no volume de carne in natura, que passou de 1,76 milhão TEC em 2018 para 2,04 milhões TEC.
- Esse aumento se deveu não só ao número de países de destino, que passou de 101 para 154, mas também ao aumento do volume de carne destinada a mercados já consolidados, como a China, cujo volume exportado aumentou 54% de 2018 para 2019.
- Nesse mesmo período a área de pastagens utilizada permaneceu praticamente estável, em 162,5 milhões de hectares, com uma produtividade média também estável, de 4,3 @/ha/ano.
- O Brasil alcançou novos recordes na exportação de carne bovina para o mercado internacional em 2019, com o apoio do embarque da proteína para o exigente mercado europeu, que possui consumidores com alto poder aquisitivo e com preferência por cortes mais nobres — e, consequentemente, mais caros.
- O mercado europeu representa um atestado de qualidade da produção de carne bovina para o mundo inteiro e valoriza a proteína, desde que ela seja produzida com normas pré-estabelecidas; os frigoríficos chegam a pagar até R$ 4 a mais por arroba ao pecuarista.
Preservação Ambiental x Pecuária
- Por quase cinco séculos, a pecuária brasileira se desenvolveu com a expansão da fronteira agrícola.
- No entanto, a redução de áreas disponíveis e a preocupação ambiental têm feito a criação bovina procurar novos caminhos para continuar a sua expansão, como os processos de intensificação.
- Tanto o melhoramento genético quanto as técnicas de confinamento melhoraram a qualidade da produção e aumentaram a produtividade do setor.
- Por exemplo, a pecuária mato-grossense reduziu aproximadamente 1 milhão de hectares da sua área de pastagem. Em 2009, o estado possuía um rebanho de 27,3 milhões de cabeças de bovinos em 25,3 milhões de hectares. Dez anos depois, são 30,1 milhões de animais em 24,4 milhões de hectares.
- Isso se deu em função de investimentos e uso de tecnologias disponíveis elevando a produtividade e permitindo a transferência dessas áreas para outras atividades econômicas.
Emissões de Gases de Efeito Estufa
- A pecuária brasileira não pode ser tachada de vilã no que diz respeito a emissões de gases de efeito estufa (GEEs) uma vez que, ao ser produzida principalmente a pasto, é uma grande sequestradora de GEEs.
- Conforme estudos que estão sendo elaborados pela Embrapa avançam, a constatação de que a pecuária feita em um bom pasto promove o balanço positivo em prol do sequestro de metano convertido em CO2 equivalente frente ao que é emitido fica cada vez mais clara.
Políticas Públicas
- Nas últimas quatro décadas, o Brasil implementou várias práticas agrícolas sustentáveis, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e conduzidas pelo Ministério da Agricultura.
- A adoção do Código Florestal e o Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) têm sido vitais para a expansão de uma pecuária sustentável.
- Uma avaliação do Plano ABC, que completa 10 anos em 2020, mostra que as tecnologias de baixo carbono foram implementadas em 59 milhões de hectares, cerca de 25% da área utilizada para atividades agropecuárias.
- A expansão dessas tecnologias e outras práticas agrícolas aumentará a produtividade e a eficiência e, consequentemente, elevará o número de novas oportunidades de investimento.
- O uso de pastagens de baixa produtividade para fins de cultivo é outra alternativa para aumentar a produtividade e a eficiência.
Integração Lavoura Pecuária Floresta
- De acordo com a Embrapa, cerca 65% dos 200 milhões de hectares de pastagens brasileiras estão em degradação. A adoção de sistemas de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) melhora a recuperação ambiental, além de proporcionar sustentabilidade social e melhor rentabilidade da produção agropecuária.
- A ILPF é uma estratégia de produção que integra sistemas produtivos agrícolas, pecuários e florestais em uma mesma área. A sua adoção tem resultados comprovados de aumento de duas vezes e meia na produção de leite em relação ao sistema tradicional, além de produção de carne bovina por hectare cinco vezes maior que a média nacional.
- A estratégia promove a intensificação e a integração da produção, com ganhos na oferta de alimentos, redução de pressão para a abertura de novas áreas de agronegócio e promoção de benefícios ambientais.
- O cultivo pode ser feito de forma consorciada, em sucessão ou em rotação, para proporcionar benefícios para todas as atividades envolvidas. Entre as principais vantagens dos sistemas ILPF estão melhoria do bem-estar animal, conservação das características produtivas do solo, manutenção da biodiversidade e sustentabilidade da agropecuária, diversificação da produção e maior eficiência na utilização de recursos naturais.
- A prática ainda permite a geração de empregos diretos e indiretos e reduz a sazonalidade do uso de mão de obra. Também propicia o aumento de produção de grãos, fibras, carne, leite e produtos madeireiros e não madeireiros.
- O país do boi verde, do boi de pasto, ampliou a recuperação de pastagens e dos solos pelo sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) com manejo, adubação, sombreamento e outras técnicas, que também favorecem o bem-estar animal.
- Já são mais de 11,7 milhões de hectares ocupados com ILPF. Graças a esse esforço espontâneo dos produtores rurais, já foi atingida a meta de redução de emissões de gases de efeito estufa, assumida pelo Brasil na COP 21 em Paris (para 2030): o sequestro de 35 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2eq).
Carne Carbono Neutro
- A “Carne Carbono Neutro” (CCN) é uma marca-conceito, parametrizável e auditável, que visa atestar a carne bovina produzida em sistemas de integração do tipo silvipastoril (pecuária-floresta) ou agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-floresta), por meio de uso de protocolos específicos que possibilitam o processo de certificação.
- Seu principal objetivo é garantir que os animais que deram origem ao produto tiveram as emissões de metano entérico compensadas durante o processo de produção pelo crescimento de árvores no sistema.
- Além disso, garantir, pela presença de sombra, que os animais estavam em ambiente termicamente confortável, com alto grau de bem-estar, preceitos que fortalecem a marca e que estão intimamente ligados ao marco referencial da ILPF.